Kaio Barreto e Viviane Ferreira
Retornando a discusão sobre diversidade religiosa x homossexualidade encontramos uma pessoa que queria nos falar sobre sua vivência nesse meio. G.S.* , nos relatou sua experiência de ter participado ativamente de grupos religiosos e do conflito que ocorreu depois que assumiu sua orientação sexual.
To get out of the closet (em português, sair do armário) é uma expressão muito usada para designar a atitude de homossexuais que assumem sua orientação. Esse processo, porém, nunca foi fácil. Ainda mais quando se passa boa parte da sua vida frequentando e participando do ambiente religioso.
Dos quinze aos vinte anos, G.S. acabou vivendo numa espécie de prisão, a qual ele mesmo se delimitou. Grande parte desta tortura psicológica a qual foi submetido tinha raízes religiosas. “Procurei vários padres para confessar e todos diziam a mesma coisa: Isso é um pecado. Ouvi que Deus não me condenava, mas condenava o pecado”, afirma. Mas a situação mais difícil foi quando assumiu sua orientação para sua família. ” Antes, quando estava lá quietinho no meu canto, fazendo todas as vontades dos meus pais, estava tudo tranquilo, mas a partir do momento que assumi meu namoro, as coisas mudaram”.
G.S. relata que a aceitação da família não está sendo um processo tranquilo, uma vez que seus pais acreditam em uma “cura gay”.
“Meus pais dissem que me aceitam, que me darão apoio, que a porta da casa deles sempre estará aberta, mas irão rezar para mim, para minha cura.”Do outro lado da situação, está a família do seu namorado. São pessoas humildes, que moram na zona rural de uma cidade vizinha a sua terra natal,. A família de seu companheiro é tão católica quanto a sua, mas a reação lá foi outra, a mãe apoiou o relacionamento. ” Frequento a casa dela, sou bem recebido e ela até brinca sobre o nosso casamento”.
Falando sobre casamento, para G.S isso é apenas uma oficialização, e que para ele, bastava encontrar uma pessoa que o amasse e o respeitasse. Para ele, a partir do momento que se está morando, convivendo com uma pessoa debaixo do mesmo teto,a relação pode ser encorada como casamento. Mas seu namorado, mesmo sendo mais novo, tem esse desejo de casar, tornar a união deles oficializada.
Hoje em dia, G.S. abandonou os trabalhos que fazia nos grupos religiosos, e até mesmo deixou de frequentar a igreja em sua terra natal. Uma vez que seus pais são tidos como liderança religiosa, e isso poderia causar algum tipo de constrangimentos. Mas ele noz relata que não abandonou sua fé, sua religiosidade. Morando agora em Ouro Preto (MG), ele frequenta e participa das missas locais. Sorrindo, diz que gosta de sentar bem na frente, onde pode prestar mais atenção, longe daquelas pessoas que ficam no fundo só para reparar e comentar a ” roupa” do outro. “Faço as minhas orações, converso com Deus. Não criei um Deus só para mim, mas sempre estou buscando a minha espiritualidade”.
* Usamos iniciais para preservar a identidade da fonte.