Novos Talentos: entrevista com Matheus Souza e Vitor Araujo

Vitor Araujo

Vitor Araujo (Divulgação)

Pedro Ferreira

Para finalizar o processo de apuração, o cineasta, Matheus Souza e o músico, Vitor Araújo, responderam nosso pequeno questionário.

Matheus é conhecido por ser um dos mais destacados diretores da nova geração. Com apenas 25 anos, o brasiliense já tem na bagagem prêmios como “Melhor Filme do Júri Popular” no Festival do Rio 2008 e na 32ª Mostra de São Paulo. Apesar da idade, o garoto prodígio vem empilhando elogios pelo caminho que percorre.

O pernambucano de 23 anos Vitor Araujo parece que já nasceu pronto. Antes mesmo de alcançar a maioridade, o pianista recifense começou a chamar atenção. Em 2006, ano em que gravou o DVD-demo Variando, o músico ganhou destaque em proporções nacionais ao ser comentado em capas de cadernos de cultura de vários jornais. Algo inusitado, já que o pianista se aventura continuamente pelas vias mais experimentais da música erudita. Vitor Araujo, sem dúvida, é um garoto fora do comum.

Confira abaixo as respostas desses dois talentos:

Pedro Ferreira: Matheus, você trabalha com direção/produção desde o início da sua adolescência. Em algum momento, por ser jovem, você sofreu rejeição ou teve receio da crítica?

Matheus Souza: Eu tive muita sorte. Para a gigante maioria da imprensa, o fator “juventude” foi ressaltado de maneira positiva na minha carreira, até aqui. Sempre vai existir aquele tipo de pessoa que não quer ver um “moleque” alcançando grandes conquistas e tenta atrapalhar, mas é com prazer que digo que as pessoas querendo ajudar são maioria.

Matheus Souza (Arquivo pessoal)

PF: E com você Vitor, como foi na música? 

Vitor Araújo: O fato de eu ter passado por isso na saída da adolescência fez com que eu vivesse tudo quase sem raciocinar, e isso foi muito bom pra mim, pois tirou todo o peso que pra mim hoje existe na exposição. Críticas não me colocavam medo, pois eu ainda tinha muito forte em mim o desejo em desagradar, em incomodar. As rejeições que meu primeiro trabalho sofreu vieram muito do mundo erudito. Mas, como havia em mim esse sentimento muito natural de iconoclastia juvenil, eu curtia bastante o fato de torcerem o nariz pra mim.

PF: Quais são as principais dificuldades encontradas por um jovem na produção da sua obra?

MS: É saber que, ao lidar com um baixo orçamento e sua própria pouca experiência, as coisas não vão sair exatamente como se imaginou no início. O mais importante é praticar esse desapego da sua visão original. É claro que deve se fazer de tudo para alcançar o melhor resultado, mas perseguir uma coisa específica pode prejudicar o todo.

VA: Não sei mensurar, pois tudo tem (realmente) seu lado bom e seu lado ruim. A imaturidade, a inexperiência, e todas as coisas que provêm disso, que comumente são vistas como defeitos, ao mesmo tempo trazem em si a espontaneidade, a naturalidade, facetas da arte que vão gradativamente se perdendo com o tempo de carreira, quando o racionalismo proveniente da experiência costuma roubar esse lugar da inocência e dos arroubos da alma jovem do artista. Então, é um momento único, e acho bastante positivo passar por ele.

PF: O produto de um adolescente é visto da mesma forma?

MS: A obra de um “jovem” que se destaca no meio de “adultos” vai sempre receber atenção especial. A grande virada é o jovem em questão fazer de tudo para não ser encarado apenas como um “café com leite” na comparação.

VA: Sem dúvida que não. O fato do produto artístico ter sido criado por um adolescente com certeza altera o olhar do público.

PF: Em que ponto a experiência interfere na realização da obra? Ela é limitadora para se fazer coisas criativas e bem feitas?

MS: Com a experiência você aprende atalhos e acumula contatos. Aprende também a não persistir em certos erros. Experiência é algo sempre positivo, óbvio. Mas outra coisa tão importante quanto é não perder o frescor.

VA: Não tenho como responder, pois ainda me considero um artista jovem e inexperiente: tenho 23 anos e apenas dois discos na carreira. Posso até afirmar que, na verdade, tenho apenas um disco como criador e pensador de música, de álbum, que é o A/B, visto que o TOC é apenas um registro audiovisual de um concerto de um intérprete. Mas, na minha experiência, entre o TOC e o A/B, senti dentro de mim uma possibilidade maior de dar vazão à minha criação, e muito por causa das coisas que vivi, aprendi, vi, escutei, li, estudei e presenciei nesse tempo. Não me sinto limitado.

PF: Existe uma idade ideal para começar a produzir (música, filme, livro, etc)?   

MS: Estou me sentindo uma sexóloga do Altas Horas respondendo sobre a idade certa para perder a virgindade. Enfim, a resposta é a mesma, cada um tem seu tempo, não vejo a idade interferindo, não.

VA: Essa idade será ditada pela criação, não pelo criador.

PF: Como as empresas tratam esses jovens talentos? Elas valorizam quem é criativo na juventude?   

MS: Empresas valorizam a criatividade, claro, mas sempre vão preferir o que foi testado e aprovado antes.  A lógica de “sucesso” no audiovisual brasileiro valoriza muito pouco o critério “criatividade”. Poucos produtores topam investir em algo realmente novo, em bancar algo realmente novo. O risco sempre os convence a investir no que já foi feito primeiro.

VA: Para eles, nunca importará a idade, mas só e somente só a possibilidade de retorno.

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